A Acupuntura é uma técnica milenar que assenta na teoria de que a doença resulta de desequilíbrios no fluxo de energia (Qi) que percorre os meridianos (Jingluo) e utiliza a inserção de agulhas, em pontos específicos do corpo, de modo a corrigir esses desequilíbrios e a restaurar a homeostasia orgânica. Nestes milhares de anos de história, a Acupuntura acumulou todo um conhecimento, resultante da aplicação prática destes conceitos, em inúmeras patologias, sendo a patologia respiratória um destes exemplos.
Nas últimas décadas, no Ocidente, tem havido um interesse crescente na Acupuntura tanto por profissionais de Saúde, como por parte da população em geral. Os bons resultados obtidos conferiram à Acupuntura uma aceitação a nível institucional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) listou pela primeira vez, em 1979, o conjunto de patologias tratáveis pela acupuntura. Esta lista foi revista em 2002. Por todo o mundo, são cada vez mais os Institutos Nacionais de Saúde que aceitam e validam os tratamentos de Acupuntura e recomendam esta terapia individualmente ou como adjuvante em programas de tratamento abrangentes indicados para diversas patologias respiratórias, incluindo a asma, rinite e sinusite, entre outras.
A Acupuntura apresenta uma baixa incidência de efeitos secundários e eventos adversos comparativamente com outros métodos de tratamentos, nomeadamente farmacológicos, tais como analgésicos opióides e medicamentos anti-inflamatórios, o que a torna numa excelente opção de tratamento, quer em situações agudas como crónicas.
Asma
A asma é uma patologia crónica que pode afetar pessoas de vários grupos etários, sendo uma das doenças com maior prevalência em crianças. Atualmente, é uma das patologias crónicas mais frequentes em crianças e adolescentes, tendo uma prevalência de 10%. Para mais, dependendo do grau de severidade, a asma persiste na idade adulta em cerca de 60% dos casos.
Clinicamente, a asma caracteriza-se por ataques recorrentes de dispneia (falta de ar) com sibilos (“gatinhos”), aperto no peito e tosse. Os sintomas pioram à noite e de manhã, podendo ser agravados com exposição a alergenos, variações climatéricas ou em momentos de ansiedade ou actividade física.
As guidelines (protocolos de intervenção) para o tratamento de pacientes com asma estipula o uso de anti-inflamatórios, sobretudo a inalação de esteroides, de modo a controlar a resposta inflamatória da mucosa e evitar sequelas a longo prazo. A sua natureza crónica e, consequentemente, a necessidade de medicação regular, dão origem a vários receios face aos efeitos secundários que daí possam advir. Esta realidade associada ao reconhecimento da Acupuntura como uma terapia válida para este tipo de disfunção, justificam o seu crescimento enquanto opção de tratamento, sendo cada vez mais frequente o trabalho de parceria entre o Pneumologista e o Acupuntor, com clara melhoria da qualidade de vida do paciente.
O tratamento de base da asma brônquica em crianças consiste na estimulação de pontos de Acupuntura localizados no tronco, nomeadamente os pontos Shu-Mu do Pulmão os quais, segundo os Clássicos, promovem o equilíbrio Yin-Yang do sistema respiratório. Esta linguagem aparentemente empírica tem tradução para a nossa realidade pois a estimulação dos pontos Shu-Mu do Pulmão atua no arco reflexo somato-visceral (Shu-Mu) que permite o equilíbrio do sistema nervoso autónomo (simpático/Yang e parassimpático/Yin), conduzindo à regularização do tónus do músculo liso brônquico e das glândulas secretoras das vias aéreas. Esta regularização torna o paciente mais resistente aos fatores de agravamento da asma, sejam eles exógenos (presença de alergenos, variações climatéricas) ou endógenos (ansiedade, atividade física). Esta combinação de pontos pode ser reforçada com pontos como Dingchuan (Acalma Dispneia), localizado na face posterior do tronco e que, tal como o nome indica, são pontos que aliviam sintomas característicos da disfunção asmática não controlada (dispneia, tosse e sibilos), melhorando significativamente a qualidade de vida do paciente.
Rinite
A rinite é uma condição inflamatória da membrana mucosa que reveste as fossas nasais. Esta disfunção pode manifestar-se sazonalmente (quando os sintomas surgem em determinados períodos do ano, normalmente Primavera e Outono) ou de forma contínua (quando os sintomas persistem durante todo o ano). A incidência desta condição tem vindo a aumentar consideravelmente nos últimos anos, afetando cada vez mais pessoas em todo o mundo. Nas sociedades mais industrializadas, estima-se que entre 10% e 20% da população atual sofra desta patologia.
A rinite poderá estar associada a outras co-morbidades (sinusite, asma, eczema), tendo normalmente como base um quadro alérgico. O tratamento convencional desta patologia poderá incluir evitar a exposição aos alergenos, terapêutica farmacológica e imunoterapia. Nos últimos anos, verificou-se uma tendência mundial na procura da Acupuntura para o tratamento da rinite. Portugal não é exceção e, individualmente ou em parceria com outras práticas médicas, a Acupuntura tem demonstrado ser uma opção eficaz em ambos os tipos de rinite, tanto sazonal como persistente.
O tratamento da rinite pela Acupuntura poderá incluir pontos locais como Yintang, Bitong e Yingxiang, todos localizados em torno do nariz e com ação na regularização da resposta inflamatória da mucosa nasal, reduzindo os fenómenos de obstrução e corrimento nasal.
Melhorar a qualidade de vida numa criança com patologia respiratória significa não apenas reduzir a frequência e intensidade das “crises”, sejam elas das vias aéreas superiores (rino-sinusite) ou inferiores (asma), mas melhorar a assiduidade e rendimento (tanto escolar como nas práticas desportivas) e reduzir, sempre que possível, o recurso aos fármacos (nomeadamente corticoides). Crianças e adolescentes com este tipo de disfunções respiratórias (asma, rinite, sinusite) podem ser direcionadas para Acupuntura, regra geral, com boa evolução clínica.