A Medicina Chinesa tem como base o conhecimento das leis fundamentais que regulam o normal funcionamento do corpo humano, bem como a sua interacção com o meio envolvente. Todo o raciocínio clínico é efectuado de acordo com os princípios do Yin/Yang, a Teoria dos 5 Movimentos e a circulação de Qi (Energia) no sistema de meridianos.
Constituída por múltiplas especialidades: Acupunctura, Fitoterapia, Dietética, Massagem (Tuina) e Ginástica energética (Tai Chi, Chi Kung); a Medicina Chinesa tem acumulado, ao longo de milhares de anos, competências e saberes que lhe permitem ser um aliado de grande importância para a Saúde e Bem-estar da mulher grávida, tanto durante a gravidez como no próprio parto, tendo desenvolvido técnicas específicas para as situações mais frequentes em clínica.
Nos dias de hoje, o acompanhamento da mulher grávida envolve mais do que um profissional de Saúde, exigindo uma vigilância clínica, laboratorial e imagiológica, num trabalho multidisciplinar onde o acupunctor pode perfeitamente ser integrado e desempenhar um papel de grande relevância para a qualidade de vida da futura mãe, permitindo-lhe desfrutar de uma das etapas mais importantes na vida da mulher: a maternidade.
Numerosas são as situações clínicas onde a Acupunctura tem grande eficácia terapêutica, com a segurança e a garantia de não ter qualquer toxicidade ou efeito teratogénico:
• A nível digestivo: náuseas e vómitos
Frequentes no primeiro trimestre da gravidez, as náuseas e vómitos são sinónimo de mal-estar podendo, em situações extremas, evoluir para a aversão aos alimentos e desequilíbrios electrolíticos, com deficiências nutricionais prejudiciais tanto para a mãe como para o feto. O ponto Neiguan, localizado na face anterior do antebraço, é conhecido há milhares de anos como o ponto de eleição para controlar todo tipo de náuseas e vómitos, incluindo os que ocorrem durante a gravidez. A eficácia terapêutica deste ponto foi reconhecida pela Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Canadá sendo uma das técnicas recomendadas por esta instituição, no controlo das náuseas e vómitos da mulher grávida.
•A nível músculo-esquelético: dor sacro-ilíaca, dor lombar, ciática, síndrome túnel cárpico
A dor músculo-esquelética é muito frequente na mulher grávida, sobretudo no terceiro trimestre onde a hiperlaxidão ligamentar (importante para permitir uma maior flexibilidade da cintura pélvica aquando do parto) e a modificação postural (consequência directa do aumento do volume abdominal) constituem as principais causas. As situações mais frequentes são: dor sacro-ilíaca, dor lombar e ciática. A todas elas a Acupunctura dá uma excelente resposta terapêutica, com alívio da dor e limitação motora de uma forma rápida e eficaz, sem os perigos e limitações da farmacologia.
Importante referir o síndrome do túnel cárpico, frequente no final da gravidez, sobretudo quando associado a quadros de retenção de líquidos com edema nas extremidades, sendo esse edema o responsável pela compressão do nervo mediano no túnel cárpico. A Medicina Chinesa consegue um alívio considerável da sintomatologia local (dor, dormência e falta de força nas mãos), bem como no combate à retenção de líquidos que está na origem destes sintomas.
• A nível psicológico: insónia, ansiedade, depressão
A maternidade é uma fase importante na vida da mulher, estando normalmente associada a celebração e estados emocionais positivos. No entanto, insónia, ansiedade ou depressão poderão ocorrer em qualquer fase da gravidez, aos quais não são alheias as alterações hormonais bem como as modificações no corpo da mulher, sobretudo numa primeira gravidez onde tudo é intenso, novo e desconhecido, potenciando labilidade do humor. Normalmente pouco valorizadas, por serem consideradas normais na mulher grávida, estas alterações emocionais podem prejudicar o desenvolvimento do feto e aumentam o risco de parto prematuro.
Por motivos óbvios, o recurso à farmacologia deverá ser limitado, sendo a própria OMS a recomendar a Acupunctura como uma excelente opção terapêutica para regularizar o estado emocional da futura mãe, tanto nos quadros ansiosos como nos quadros depressivos, permitindo-lhe viver em pleno toda a experiência da maternidade.
• A nível circulatório: edemas
Os edemas, sobretudo nos membros inferiores, com sensação de peso e agravamento nos dias de maior calor, são consequência da retenção de líquidos e do crescimento do útero que, acompanhando o crescimento do feto, comprime as estruturas vasculares responsáveis pelo retorno do sangue proveniente dos membros inferiores. Sendo considerados normais no terceiro trimestre da gravidez, a sua presença implica o despiste de situações como hipertensão arterial, diabetes gestacional ou disfunção renal.
A Medicina Chinesa, ao combater a retenção de líquidos e melhorar a função circulatória reduz consideravelmente os edemas, com claros benefícios para a qualidade de vida da futura mãe, numa fase da gravidez onde o ganho de peso e as alterações posturais potenciam a sensação de cansaço e mal-estar generalizado.
O controlo do peso é importante ao longo de toda a gravidez pois um ganho de peso excessivo é prejudicial, estando associado a partos mais difíceis bem como a maior probabilidade de desenvolver diabetes gestacional e hipertensão arterial. A Medicina Chinesa contribui decisivamente para este controlo, tanto durante a gravidez, como numa fase posterior na recuperação pós-parto.
• Apresentação pélvica do feto
Em 3 a 5% dos casos, não ocorre o clássico virar no interior do útero fazendo com que o feto se apresente com a cabeça para cima e as nádegas para baixo, contrariando a posição mais favorável ao parto vaginal: cabeça para baixo, encaixada na pélvis. A estimulação do ponto Zhiyin, localizado no 5º dedo do pé permite, regra geral em 24h, inverter a posição do feto, passando este de uma apresentação pélvica para uma apresentação cefálica.
Ter em atenção que o mesmo ponto, estimulado de uma forma diferente, é um dos mais utilizados para desencadear o parto, sendo necessário um profundo conhecimento da Medicina Chinesa para que estas técnicas, aparentemente simples, sejam praticadas de uma forma segura e com bom resultado terapêutico.
Para além do acompanhamento da gravidez, a Acupunctura tem sido utilizada com grande sucesso durante o trabalho de parto, facilitando todo o processo devido à sua acção analgésica e relaxante. Sendo uma situação relativamente frequente em França e Inglaterra, a realidade portuguesa ainda é diferente e o hospital ou maternidade onde planeia ter o seu bebé pode não permitir a presença de um elemento estranho à equipa clínica habitual. Informe-se atempadamente, questionando o seu médico obstetra bem como os responsáveis da instituição. Caso deseje a participação de um acupunctor em seu parto, deverá ser acompanhada durante a gravidez, respeitando um adágio oriental. “Não esperes pela sede para escavares o poço”
Concluindo, num mundo onde a comunicação é cada vez mais rápida e fácil, as equipas multidisciplinares, com partilha da informação e discussão dos casos na procura da melhor solução clínica, são cada vez mais uma realidade, com claros benefícios para a qualidade do serviço prestado. A especificidade da gravidez, com todas as limitações na utilização da farmacologia, permite à Medicina Chinesa mais uma vez demonstrar a sua importância na prática clínica moderna. Utilizando técnicas seguras e de grande eficácia terapêutica, nomeadamente a Acupunctura, a Medicina Chinesa conquistou o seu lugar na equipa multidisciplinar que acompanha a mulher grávida, permitindo-lhe aumentar o seu bem-estar físico e emocional.